terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vivendo no fio da navalha das coisas

No entanto, ainda vivemos neste mundo, no fio da navalha das coisas. Logo depois de sua publicação em 1948, o livro The Presence of the Kingdom, de Jacques Ellul, ajudou-me a ver a vivacidade com a qual a presença de Deus pode entrar em todos os aspectos da cultura. Fez minha mentalidade superficial tentar fugir do "mundanismo" de meia dúzia de tabus se transformar num desejo por um encontro de redenção com os problemas do mundo. O Senhor orou não para que o Pai nos retirasse deste mundo, mas para que nos preservasse nele. Se os cristãos não tiverem contato com o mundo, então o futuro deste será desolador. Precisamos ser sóbrios e vigilantes, sem ficar buscando "soluções", mas vidas transformadas que podem transformar o mundo. Somente então seremos capazes de incutir uma nova consciência da presença de Deus. Um mundo mergulhado no pecado é um mundo transtornado, cheio de incoerências e incertezas que nos passam despercebidas quando generalizamos teoricamente sobre nossas "cosmovisão cristã". Pelo contrário, vivemos num "Mundo vivo" abrangente, contingente e cheio de contradições ostensivas.

James Houston, em "Meu Legado Espiritual"

Um texto bastante pertinente ao período, pré-eleições, em que estamos vivendo. Nós, cristãos, deveríamos estar presentes em TODOS os aspectos da cultura: da tv à política; deveríamos fazer a diferença sem picuinhas, briguinhas ou interesses próprios. Difícil não se indignar com o que temos visto. Dia desses, assisti a um discurso em que um senador, ao se referir a dois governos corruptos, disse: "O que vocês devem ponderar é o que Ciclano fez em relação a Fulano. Esse não fez nada em 8 anos, enquanto aquele fez muito mais em 4 anos de mandato". A dúvida que fica é: "Devo escolher qual dos ladrões? O que fez mais ou menos?" #NOT.
É triste. Nesse ano, em que tenho podido discutir e saber mais sobre política, o sentimento que me vem é o de indignação. Como podemos nos contentar com pessoas que têm a política como profissão? Como podemos ficar calados diante de um STF que não aprova a Lei da Ficha Limpa? Como nós, cristãos, não deixamos nossas diferenças de lado, olhamos para o que temos em comum, isto é, Cristo e não nos unimos para fazer a diferença, não para nós, mas para algo além, algo maior: um mundo melhor?
Se sabemos o que devemos fazer e não fazemos, omitimo-nos. Se somos displicentes quanto ao chamado de permanecer e fazer a diferença, desobedecemos. Se assim é, estamos (muito, muito) longe de sermos "vidas transformadas que podem mudar o mundo".
Não tenho medo do que virá. Jesus, ao se dirigir ao Pai, disse: Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
E é nessa certeza, de que Deus é por nós que, penso, deveríamos prosseguir sem medo. Ninguém disse que seria fácil, pelo contrário. O que mais quero é o que está explícito na oração que Jesus fez no sermão do monte: "Que seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu".
Dessa maneira, atrevo-me a pedir: assim na terra como no céu, seja feita a Tua (perfeita) vontade, Senhor.

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