domingo, 6 de setembro de 2009

Sobre noites de chuva

a noite era fria e escura, chovia. quando olhou pela janela, avistou um céu cheio de raios. as noites de trovões davam-lhe medo, bastante medo. ela, que era corajosa na maior parte do tempo, via-se sempre medrosa em noites de estrondos mais altos que o som da tv, faltava-lhe algo. o medo de estar só, a irracionalidade de dizer coisas de si mesma e a falta que sentia traziam-lhe arrepios inesperados, suspiros. ela, que era forte, sentia que sua capacidade em ser era inversamente proporcional à sua capacidade de pertencer, talvez, se fosse menos e pertencesse mais, seria diferente. o cheiro de café e o livro aberto sobre a cama, não mais importavam. o medo das trovoadas e da solidão faziam-se presentes. em seu coração, esperava, intimamente, que a tempestade passasse. em uma prece rápida, pediu paciência. olhou para fora, queria que o dia tivesse amanhecido. era noite ainda.